Menino de pés descalços
Calça sua dignidade e vai para o samba
Arrasta a miséria com sua força
Menino levado corre pelos morros
Posso ver suas costelas
Posso ver sua angústia
Menino moreno, de trapos gastos
Sua alma carrega cem anos de vida
Seu corpo franzino tem apenas dez
Menino que brinca nos córregos
Criança levada, de sonhos roubados
O papagaio é o seu melhor amigo
Você o inveja, não é mesmo, menino?
Ele voa livre e te diverte ironicamente
Ai, menino, nascido das mazelas
Seus dias são favelas
Seu futuro mete medo
Sobe na laje e vê o horizonte
Do alto do morro enxerga o mar
Deseja o mar, sua imensidão
De estômago oco com os pés do chão
Sorri vergonhoso dos trapos que veste
Levanta as mãos para os céus e grita:
“Tem alguém aí?”, tristonho suplica
“Porque aqui já se esqueceram de mim”
Rasga o papagaio, rasga as vestes, rasga os sonhos
Desce correndo as escadas do musseque
Se lança no mundo como homem já feito
Menino produto da indiferença
Seus dias são favelas
Seu futuro é descrença
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