terça-feira, 24 de janeiro de 2012

das definições de amor.

Falar sobre amor é sempre difícil. Defini-lo, então, é quase impossível.

Mas entre uma conversa e outra, e claro, alguns instantes sozinha, comecei a questionar se é possível existir amor incondicional entre um casal. Será?

Busquei algumas definições que consigam sustentar meus argumentos. Vamos lá:

O amor pode ser Eros. Aquele amor carnal, da atração física. É o amor que não dura eternamente e na minha opinião é o único amor possível entre um casal. Parece que após anos de relacionamento esse amor acaba, como a atração física acaba, então só resta a convivência, e por mais estranho que pareça, o costume. Sim, pois é assim que consigo explicar esses casais que ficam uma vida inteira juntos. Todo aquele tesão do início chegará ao fim e só restarão as lembranças e o costume de estar com a pessoa.

O amor pode ser Ágape. Um amor incondicional, espiritual, altruísta. Muitos cristãos afirmam que esse é o amor de Deus por nós. O amor que não exige nada em troca, que não magoa, não fere, não incomoda. Bom, partindo dessa definição acredito que seja impossível existir esse tipo de amor entre um casal. Se você acompanha meu blog há um tempo sabe que eu adoro falar de expectativas. Pois bem, esse amor é livre de expectativas e ciúmes. Um amor fraternal.

Seguindo essa linha de raciocínio, fico me questionando sobre a possibilidade de existir um amor - permitam-me utilizar esse termo - Ágape entre casais. Porque no relacionamento a dois é natural que haja um desejo de ter a pessoa apenas para você. Sei que é assunto para outros posts, mas isso deve-se ao fato de trazermos para as relações afetivas a noção de propriedade privada. Você está comigo, é meu e ponto final. Será mesmo que é possível desprender-se desses sentimentos? Eu adoraria fazer um experimento, porque às vezes fico na dúvida e não consigo comprovar se não vivenciar uma situação do tipo. Mas pelas minhas experiências e até mesmo pelas conversas com outras pessoas, chego a conclusão de que o amor que existe entre um casal é apenas Eros. E obviamente ele acaba. O Ágape não acaba...

Até escrevi há um tempo que o amor é algo muito maior e nós o reduzimos a um sentimento de posse, portanto ele vira mágoa.

E de fato é algo tão maior que não é possível ser atingido numa relação carnal. Porque se existe corpo, existe desejo. O desejo leva ao sentimento de posse, que leva ao ciúme. Se existe ciúme o amor não é incondicional, então não é o amor Ágape. É apenas Eros. E chego até a pensar se Eros pode ser considerado amor, se não é apenas paixão, que é algo mais carnal.

Ou será que o que chamamos de amor não passa de uma necessidade de preencher um vazio infinito? Que na realidade quando falamos para alguém "Te amo", estamos querendo dizer, "nesse momento você me completa", e nada mais.

Sintam-se a vontade para contra-argumentar.

Enquanto isso eu fico aqui pensando...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

instável X estável




Instável: adj. Que não tem solidez, estabilidade.
Mutável, volúvel, inconstante.
Móvel, movediço.
Diz-se de um equilíbrio que se destrói pela menor perturbação, de uma combinação química que se pode decompor espontaneamente.


Estável: adj. Que permanece firme, sólido: construção estável.
Fig. Permanente, duradouro: situação estável.
Química Diz-se de um composto químico que resiste à decomposição.
Mecânica Diz-se do equilíbrio que não se destrói com uma leve variação das condições.

Eu fiquei perplexa com a instabilidade do tempo em São Paulo.
Eu fiquei embasbacada com a instabilidade do humor das pessoas.
Então, pensei: será que existe algo estável?

Enquanto a chuva caía, meus pensamentos tentavam encontrar a resposta para essa pergunta. Espremi a laranja do cérebro e nada de sair suco. Será que tem alguma relação? Digo, entre o tempo e as pessoas. Claro, besta! Somos parte desse todo e não seria coincidência a existência de alguma relação.

Mas deixando isso de lado...essa instabilidade me fascina, de certa forma. O fato de nada ser previsível, entendem? Nem o tempo, oras! E olha que para o tempo existe uma tecnologia fantástica que permite diminuir a margem de erro. E nós? Não há tecnologia que consiga prever qual será nosso estado de espírito no dia X, ou ainda qual sentimento brotará dentro de nós amanhã ou depois. Porque não somos estáveis.

E é justamente essa instabilidade que traz movimento à vida. É o 'hoje sou, amanhã já não sei mais'. Então porque programar? Por que traçar diversos objetivos sabendo da existência dessa instabilidade? Da existência de sentimentos e situações que são inconstantes assim como o tempo lá fora, que amanhece ensolarado e anoitece alagando cidades. Só para que haja frustrações? Ou é um modo de vivenciar a pseudo-estabilidade das coisas?

Então pergunto novamente: o que é permanente? O que é duradouro? O que é estável? A fé? Deus? Mas se seguirmos o padrão das coisas, como o tempo, as pessoas, se concluirmos que tudo está em constante mutação, então será que podemos atribuir essas consequências àquilo que não conseguimos comprovar cientificamente a existência, como por exemplo Deus? Ele é estável ou não? Será que ele faz parte desse todo que é naturalmente volúvel? Mas aí já seria uma questão para outro post.

Esse teclado que estou utilizando para digitar, por exemplo. Há quanto tempo ele está aqui? Tudo que fizeram para deixá-lo dessa maneira, ele foi modificado, moldado, e continua mudando. As letras estão sumindo, a cor dele já não é mais a mesma. Comigo e com todos nós é igual! Como não? Desde o dia que viemos ao mundo, quantas experiências, situações, traumas, amores nos fizeram o que somos hoje? Então porque não aceitar de maneira natural a instabilidade das outras pessoas? As indecisões, as dúvidas, os medos...porque de certa forma queremos ser permanentes. Queremos nos apoiar em algo que seja sólido, que nos dê firmeza, ainda que seja uma firmeza superficial. E é mesmo.  Mas não há como prever o desmoronamento dessa solidez. 

E continua chovendo...

Foto: 500 days of summer. "Às vezes quando as pessoas crescem, elas crescem separadas", pois não somos estáveis.



quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

dos aromas e das memórias.



É tão maravilhosa essa conexão entre a fisiologia e a psicologia do corpo e da mente. Um simples perfume é capaz de nos transportar para um outro tempo. A minha viagem está sendo muito prazerosa. La bella Italia. 

La bella Italia dos parques, das ruas estreitas, dos prédios baixos...da Corso Buenos Aires, da Viale Monza, do Castelo Sforzesco. Do cappuccino com croissant de café da manhã ao som de Elisa.

Cada vez que respiro e trago para dentro do nariz o cheiro do perfume que estou usando hoje, vejo imagens de Roma, Vaticano, Coliseu...lembro da voz no metrô "Fermata Loretto, Fermata Loretto". Dos passeios no Duomo, do sorvete de chocolate fondente, do Bartender, Ciu's e Blender. Os coquetéis, o sotaque italiano ao pedir um 'Strawberry Fruitcup'. Do chefe de cozinha, do Fabrizio, da Greta, Francesco, Fabio e muitos outros que passaram dias, semanas, meses comigo.

Respiro novamente e posso ouvir o barulho dos bondes passando pela cidade, posso ouvir os clientes perguntando às 16:00 da tarde "Siete aperti"?

A brisa, a neve, o sol, o verão, beijos, abraços, novidades, solidão, tristeza, mágoa, desespero, viagens, loucuras, porres...

E tudo ficou lá e aqui ao mesmo tempo. Deixei uma parte de mim na Itália e trouxe uma parte da Itália comigo. Deixei alguns cabelos espalhados pelas ruas, toquei nos monumentos, abracei italianos e fui capturando tudo que cabia nos meus braços, até transbordar. Joguei moeda na Fontana di Trevi e me senti um Gladiador ao entrar no Coliseu.

É um filme que passa na minha cabeça neste exato momento. Não quero apertar 'stop'...

...essa coisa de memória olfativa é simplesmente demais!


Foto: Piazza San Pietro - Vaticano


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

olhos de ressaca.



"Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as suas pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios. Há de dobrar o gozo aos bem-aventurados do céu conhecer a soma dos tormentos que já terão padecido no inferno os seus inimigos; assim também a quantidade das delícias que terão gozado no céu os seus desafetos aumentará as dores aos condenados do inferno. Este outro suplício escapou ao divino Dante; mas eu não estou aqui para emendar poetas. Estou para contar que, ao cabo de um tempo não marcado, agarrei-me definitivamente aos cabelos de Capitu, mas então com as mãos, e disse-lhe,–para dizer alguma cousa,–que era capaz de os pentear, se quisesse."
- Machado de Assis in “Dom Casmurro”

Deixe-me penteá-los, então.
Deixe-me admirá-los. Deixe-me...assim.
Música: Elephant Gun - Beirut

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Hey, Newton.





Nada como ficar sozinha. Pode ser triste, mas geralmente é na solidão que consigo organizar meus pensamentos e me dedicar à uma das atividades mais prazerosas que existem: ler.

Claro que também surgem perguntas conflitantes e sozinho é assim: você e suas teorias, suas dúvidas, sem ninguém para ajudá-lo. Talvez um livro ou outro, mas não é uma biblioteca. De pijama, na cama, li:

"Se pudéssemos desligar a força gravitacional entre a Lua e a Terra, a Lua se moveria em linha reta com velocidade constante, tangente à sua órbita."

Como se alguém amarrasse uma pedra em uma corda e começasse a rodar a corda. "Soltem a corda!", pensei. Exato, a pedra também se moveria em linha reta com velocidade constante, tangente à sua órbita. Soltem a corda, então.

Foi quando percebi que a única pessoa capaz de soltar a corda sou eu. Não preciso dessa gravidade que um dia pode ser grave para mim mesma. Não quero satélites presos à minha órbita. Será? Ainda ontem me disseram que eu quero sim, só não desejo aceitar esse 'querer'. Percebi que meu movimento é circular, porque afinal de contas eu volto sempre no mesmo ponto, pelo menos nos meus pensamentos. Então soltem a corda e deixem-me vagar deliciosamente pela amplitude da minha alma. Mas a questão é justamente essa: a minha corda foi solta e não aconteceu comigo o que aconteceria com a Lua ou com a pedra...ainda não.

Talvez porque essa força não seja tão fraca como a gravidade.

E se eu soltasse a corda, o que aconteceria?

Foi um simples trecho do livro que me levou a essas perguntas que ainda não tem respostas. E foi com um livro de física que eu consegui enxergar a parte mais humana de mim, a parte que eu tentei esconder até então.

Só não consegui descobrir se sou a Lua ou a Terra. Se sou a pedra ou a mão que gira a corda.