sábado, 29 de outubro de 2011

Bruta flor do querer


Letra maravilhosa recheada de metáforas, antíteses e quereres. Fico arrepiada com a interpretação da Maria Bethânia.

"O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é em mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há, e do que não há em mim"



Ah, bruta flor do querer...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Estou na contramão
Enquanto os carros passam
Em outra direção
Eu gosto assim
O que fazer?
Quando todos vão à praia
Eu vou para Campos do Jordão
Quando as mocinhas usam saia
Eu uso moletom
Enquanto as rádios tocam Adele
Eu ouço Rolling Stones
E gosto assim
O que fazer?
Enquanto todos acreditam
Eu fico no muro, beirando o não
E ai de quem disser que sou do contra!
Não sou do contra, 
Só sigo outra direção

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Realidade esquecida


De malas prontas
Sem roupa, sem nada
Caminham desordenados
Sem destino ou direção
Abutres acompanham essa sofreguidão
Palmas dos pés rachadas como o terreno
Carregam o peso nas costas
E um peso maior no coração
Cinco sóis dividem o céu
Inflamam os corpos extenuados
Não há espaço para palavras
Não há palavras nas mentes estagnadas
Só o cansaço envolvendo o sertão
Sahel brasileiro,
Por onde caminha esse povo guerreiro
Onde a vida é atroz, e é verão o ano inteiro
Ali não há infância, em seu lugar há desespero
Aridez covarde, escassez maldita
Aqui temos tudo e lá coisa alguma
Onde está o Deus que olha por este país?
Não vedes a odisséia desse povo infeliz?!
Dos retirantes do mundo novo
Que andam para resistir
Morrem secos, miseráveis
Sem uma gota de lágrima para poder chorar!
Meus versos não aguentam delatar esse desprezo
Eles perecem feito cambitos tão fatigados
De caminhar nessa terra estéril 
Findam-se pesarosos murmurando
Serra Leoa aqui também.

Libérrimo...


Muros, carros blindados, cerca elétrica
Seguro, arma de fogo e generais
Soldados armados caminham
Câmeras vigiam os sinais
Mi casa, mi casa,
Tu soledad no me importa
Vivo cercado por cercas farpadas
Mente intrigada e alma morta
Desconfio da minha sombra
Desconfio do meu filho
Mais câmeras, mais muros, mais cercas
Construirei um forte colossal
Até que a morte seja bem-vinda
Mi soledad no te importa
Meu espírito morto vive entre grades
Meu corpo dissimulado grita: sou livre!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Menino descalço


Menino de pés descalços
Calça sua dignidade e vai para o samba
Arrasta a miséria com sua força
Menino levado corre pelos morros
Posso ver suas costelas
Posso ver sua angústia
Menino moreno, de trapos gastos
Sua alma carrega cem anos de vida
Seu corpo franzino tem apenas dez
Menino que brinca nos córregos
Criança levada, de sonhos roubados
O papagaio é o seu melhor amigo
Você o inveja, não é mesmo, menino?
Ele voa livre e te diverte ironicamente
Ai, menino, nascido das mazelas
Seus dias são favelas
Seu futuro mete medo
Sobe na laje e vê o horizonte
Do alto do morro enxerga o mar
Deseja o mar, sua imensidão
De estômago oco com os pés do chão
Sorri vergonhoso dos trapos que veste
Levanta as mãos para os céus e grita:
“Tem alguém aí?”, tristonho suplica
“Porque aqui já se esqueceram de mim”
Rasga o papagaio, rasga as vestes, rasga os sonhos
Desce correndo as escadas do musseque
Se lança no mundo como homem já feito
Menino produto da indiferença
Seus dias são favelas
Seu futuro é descrença

Procura-se

Reencontro, reencontro, reencontro, reencontro. Gotas de suor escorrem dos meus devaneios. Esforço-me inutilmente - será? Sabor de dúvida na boca do peito. Sabor de surpresa na boca do coração. Reencontro a mim e a ti na imensa multidão. Quem és tu, cara pálida? Quem és...tu?


Sem mais.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Sou comunista sim, e daí?


Trabalhadores do mundo, uni-vos!

Eu modificaria essa famosa frase, com a qual Marx & Engels concluem o belíssimo Manifesto Comunista para: "Excluídos do mundo, uni-vos!" ou seria "Jovens do mundo, uni-vos!"?, também tinha pensado em "Pobres do mundo, uni-vos!". Acho que estou indo muito longe, continuemos com a frase original.

Para começar bem a semana, me indicaram um post do blog do Tico Santa Cruz, no qual ele defende as marchas contra a corrupção e contra qualquer tipo de abuso do governo. Fiquei impressionada, pois não sabia da existência desse Tico politicamente ativo, lutando a favor das causas mais nobres. Ele não se posiciona em direita ou esquerda, afirma que a luta é do povo e não do espectro político. De fato, quando vamos às ruas não queremos saber quem é de esquerda, quem é de direita, quem é centro-direita-meio-ponta-esquerda. Estamos unidos por um problema comum a todos os brasileiros: corrupção. E vou além. Estamos unidos por uma problema comum aos povos do mundo inteiro: o abuso do capital. Chegamos a seguinte conclusão - sem dramas, por favor - o capitalismo não é a saída. Pode ter sido glorioso por alguns anos. Pode ser interessante e essencial para muitas pessoas, mas olhem ao redor. Não precisa ir muito longe, quero dizer, não precisa ver fotos dos países na África. Pode olhar no sertão do nordeste, nas favelas que contrastam com mansões milionárias no Morumbi, em SP. Basta abrir os olhos e enxergar que dessa maneira não dá mais. Enquanto poucos ganham, MUITOS, mas MUITOS mesmo perdem a cada minuto. Essa é a lei do capital: para que alguns fiquem ricos, muitos devem ficar pobres.

Mas será que estamos atolados até a cabeça nessa história? Será que não existe uma forma de mudar essa realidade? Claro que existe! Afinal, do que adiantaria eu escrever esse texto se não houvesse uma saída (leia-se salvação)? Não sou contra o capital. Sou contra o lucro abusivo. Sou contra transformar relações interpessoais em dinheiro (como já havia escrito Marx). É exatamente isso que o sistema capitalista tem feito com os excluídos. Enquanto alguns desfrutam de uma mansão com piscina, vinhos caros, roupas de marca, carros importados, muitos morrem de fome. Mas existem aqueles que rebatem: "eu tenho direito, trabalhei para isso!" Com certeza! A culpa não é sua, meu caro. A culpa é de um sistema que privilegia poucos. Se você tem todas essas regalias é porque não foi excluído pelo capital. Você teve oportunidades que muitos nem sequer sonham em ter. Você não teve que trabalhar na infância para ajudar os pais. Você teve a oportunidade de frequentar uma escola que te ensinou a ser cidadão. Você tem dinheiro para pagar uma boa universidade. Você é um dos poucos escolhidos. E para que esse quadro mude, você que foi escolhido precisa reconhecer que existe uma INJUSTIÇA e que o mundo clama pela sua ajuda.

Dia 15 de outubro de 2011. Pessoas ao redor do mundo foram às ruas pedir MUDANÇA. Unidos por um ideal - que muitos ousam chamar de utopia - e sedentos por justiça. No meio desses manifestantes havia alguns da massa privilegiada. Da massa que não sofre por não ter dinheiro. Mas estavam lá, lutando pelos que não tem forças para lutar. Como diz a música da Banda Mais Bonita da Cidade: "Eu vou tentar mais uma vez, por quem não pode mais tentar". Isso vale muito mais que ser de direita ou esquerda.

O povo está cansando desse sistema que escolhe poucos. E são os próprios escolhidos que se misturam com os excluídos para gritar: QUEREMOS MUDANÇA! Talvez seja isso que Marx idealizava. Foi por isso que Che lutou. É por isso que muitos revolucionários morreram. Pela união dos povos, pela COMUNHÃO das nações, sem fronteiras separando-as. Pela DESCATRACALIZAÇÃO do mundo. Estão todos juntos por uma "utopia" e, se ser comunista significa dizer que sou a favor dessa comunhão global, então sim meus caros, sou comunista!

E você?

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Da solução.


Sinto que estou dissolvendo e consigo ver meus restos formando um corpo de fundo. O excedente de mim destoa da homogeneidade que sou, e assim, explodo em antíteses.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Mãe d'água

Canta Iara, canta
Encanta e hipnotiza
Fascina os olhos dos fracos
Maltrata, destrata, mata
Navega nos corações levianos
Faz tua presa sonhar
Canta e encanta
Com teus seios aprumados
De bicos aveludados
Vai à caça dos perdidos
Canta Iara, canta
Esfíngica beleza
Envolve tua presa
Magnetiza a razão dos mortais
Canta, encanta, canta
Aproxima-se sorrateiramente
Não hesite bela serpente
Quero abrigar-me em tuas águas termais

domingo, 9 de outubro de 2011

12/10/11





Neste feriado de quarta-feira venha marchar contra a corrupção. Sempre vejo o pessoal reclamando no facebook, postando notícias sobre políticos corruptos e mostrando sua indignação. Então está na hora de mostrarmos a esses safados que estamos unidos na luta contra eles.


"A gente muda o mundo com a mudança da mente"


Dia 12/10 às 14hrs em frente ao MASP (São Paulo)


Traga cartazes e faixas e esteja pronto para gritar por um Brasil sem corrupção!

quinta-feira, 6 de outubro de 2011



Há dias que rejuvenesço. Depois, cansada de ser assim, encho-me de prazeres mundanos. Se fico enjoada de mim vou minguando lentamente, deixando transparecer na superfície da minha existência as crateras que as dúvidas causaram. Por fim, resta-me apenas um pensamento inflexível no seu estado mais líquido: o núcleo do meu satélite natural.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Desabafo

Às vezes eu me pego pensando coisas do tipo: do que nos adiantou a revolução industrial, a chegada da tecnologia e a globalização pós-guerra fria? Parece que com o passar dos anos as pessoas estão ficando mais individualistas. As relações interpessoais baseiam-se na recompensa. Os bens materiais são mais importantes do que os ideais.

Esta semana acompanhamos mais um caso de agressão a homossexuais. É exatamente disso que estou falando. O respeito. Os argumentos de pessoas que praticam tais absurdos são embasados no egoísmo, no achar que o diferente deve ser banido. Podemos comparar esses atos com o genocídio realizado pela Inquisição na Idade Média. Os homossexuais são vistos como os hereges do século XXI.

As manifestações em favor de uma política que inclua as minorias são atacadas por cidadãos que dizem defender a liberdade de expressão. Contudo, eles não sabem discernir liberdade de libertinagem. Na década do grande clichê "POLITICAMENTE CORRETO", ser educado, proteger o meio ambiente e discursar a favor das minorias excluídas, tornaram-se características de uma pessoa chata. São os ecochatos, os falsos moralistas, e por aí vai. Defender uma ideologia e lutar por uma sociedade igualitária tornou-se motivo de chacota nesse mundo extremamente egoísta.

Muitos pensam assim: se dentro da minha casa eu tenho água, comida, equipamentos eletrônicos, dinheiro, proteção e conforto, não me interessa saber o que ocorre fora dessa bolha. O meu mundo é o necessário para que eu seja feliz. O mundo dos outros não é meu, e talvez eles mereçam o mundo que tem. Também não posso ser hipócrita e falar que nunca pensei isso. O problema não é ter esse pensamento uma vez na vida. O grande problema é levá-lo durante a vida inteira e agredir os outros por não pensarem assim. Não concordar com os homossexuais também não é o problema. A grande questão é saber conviver harmoniosamente com as diferenças, sejam elas do nosso agrado ou não.

Apesar de todo o avanço tecnológico, estamos regredindo mentalmente para uma época na qual  pensar diferente era um crime contra Deus, e portanto, somente a morte purificaria as almas dos hereges. Os inquisidores do século XXI usam máscaras para sair nas ruas agredindo o que acham imoral. Mas na realidade, são jovens invejosos que gostariam de ter a coragem de assumir o que realmente são.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Desistir? Jamais...


Extorsão
ICMS, IPI, IPTU, IPVA
Enganação
ISS, INSS, IPI, ITBI
Prevaricação
IE, II, IR, IOF
Degeneração
Muitos morrem
Vivem mortos
Morrem vivos
Miseráveis
Onde está a nação?
Onde está a nação?
O som do capital
O bolso rico do animal
Dízimas periódicas
Dízimos diabólicos
Dizei-me então,
Cidadão
Revolução ou corrupção?

sábado, 1 de outubro de 2011

Belo monstro





Belo monstro
Abaité que povoa a nação
Das palmeiras e dos rios
Abundantes, contradizes
A nossa terra produzindo rios de mágoas
Que seres humanos são esses?
Que de humanos não entendem
Seres que não sabem ser
Amigos da natureza
Mostrai a eles, Monã
Toda sua força divina
Exterminai os espíritos malignos
Que nos perseguem e nos escravizam
Desde quando descobriram a terra do pau-brasil
Que monstros boçais!
Andira nos anunciou
Esse agouro chegaria aqui
E nada mais deixaria para nós
Nem para eles
Belo monstro
Dizei-me tu porque és tão cruel?
Explica-me essa usura
Qual a finalidade da ambição
Se um dia irás, assim como eu
Sentir o calor da terra?
Ai, belo monstro
Que de beleza nada tens
E de monstro és ainda menino
Belo monstro, monstro belo
Ser humano desumano
Meu chorar é tão singelo
Estamos caminhando para o fim
Monstro belo
Vejo o monte de monstros
Vês o monte de belos


Muitos acreditam no sucesso da usina de Belo Monte, eu não.