sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Meu sonho e a caverna de Platão



Hoje sonhei com uma festa. Era uma mansão cercada por árvores adultas e floríferas. Os convidados estavam sentados na parte exterior, onde tocava uma música ambiente equanto os garçons desfilavam como bailarinas russas ao som da Valsa das Flores. As mesas redondas tinham muito das baianas, se olhadas de cima. Jornalistas famosos jantavam lagostas gigantes e bebiam vinho de ouro. Atores, empresários, toda a elite estava lá. Eu também estava. Rostos desconhecidos encaravam-me com um ar de desprezo. Afinal, o que eu tinha para ser apreciado? Uma velha calça jeans e um tênis com as marcas do tempo? Nada disso lhes interessava. Gucci, Prada, Chanel, era só isso que eles admiravam. As mulheres estavam vestidas para a morte, maquiadas, perfumadas...é, de fato a monotonia se assemelhava a um funeral.


Do lado de fora da festa ficavam os animais. Gritavam, sofriam e latiam desesperadamente por um pão. Não queriam a lagosta gigante nem o vinho de ouro. "Somente um pão!", suplicavam. Enquanto caminhava vagarosamente entre os espectros profanos, pensava: "Malditos sejam vocês!"
Os excluídos permaneciam na porta da cozinha esperando a esmola. Foi quando um homem negro e parrudo abriu a porta e começou a jogar os lixos com os restos do banquete. Parecia uma chuva de entranhas e os pequenos disputavam cada pedaço, rasgavam os lixos e se deliciavam. Então o mesmo homem que havia jogado os restos retornou e disse:

- Andai-vos vermes putrefatos! Já lhes dei de comer, agora andai-vos para o lugar ao qual vocês pertencem, aqui já não é mais o vosso lar!

Dito isso os vermes rastejaram para suas cavernas e ali permaneceram em silêncio.

Voltei para o umbigo da festa e notei que tudo havia mudado. Lá estavam negros, índios e favelados, sorrindo e festejando. Nordestinos do sertão comiam, bebiam e dividiam a lagosta com alguns escravos. Era a revolução! Finalmente a revolução! Sentei-me na cadeira junto a um velho senhor de calças rasgadas, contei-lhe a surpresa que tive e disse-lhe que aquilo só podia ser um sonho. Ele sorriu, olhou-me carinhosamente e disse-me:
- Talvez seja um sonho, talvez seja teu sonho. Talvez seja um desejo tão forte, talvez seja loucura mesmo. O que posso dizer, minha cara? Os que aqui estavam antes de chegarmos não quiseram dividir sua boa comida conosco durante séculos. Eles não querem acreditar no que veem, portanto ficam escondidos na caverna de Platão. Nós compartilhamos o nosso banquete da mesma forma que eles compartilhavam o deles. Migalhas...Acho que agora é melhor eu dormir um pouco, estou cansado.

Ele fechou os olhos e eu abri os meus.
Se foi um sonho, um aviso, uma esperança, não sei. Mas as palavras daquele velho continuam apertando meu coração.

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