quinta-feira, 19 de abril de 2012

das conversas mais esclarecedoras.

Comecei a sair do trabalho para almoçar.

Ah, sei lá, passar horas e horas lá dentro me impede de conhecer pessoas diferentes e, portanto, de ter mais inspirações para o Catarse.


Conheci essa mulher que leva a vida à espera de clientes. Ela estava no ponto de ônibus, usando uma blusa com decote bem chamativo e assim que cheguei me cumprimentou com um simpático "Bom dia!". Pediu um cigarro e puxou conversa:


- Sabe, bebê, vi você com esse livro na mão e lembrei de um livro que li um dia, na verdade foi o melhor livro que já li, o nome é "Sabedoria dos Fracos". Porque você sabe, os mais fracos são os que mais sofrem preconceito, ninguém quer ouvir o que os bobos tem a dizer. Ninguém dá valor a isso. Na escola eu era assim, bem bobinha, pronto, todo mundo me zoava. Agora imagine só, em casa me tratavam mal, na escola eu era zoada, o que sobrava pra mim?


Continuou: "Eu acho que falta respeito e tolerância nas escolas. Muitas vezes as pessoas que parecem ser bobas, na verdade são gênios! Já conheci muita gente assim, pedreiro, motorista de ônibus, lixeiro, sabe? Essas pessoas que ninguém repara quando passa do lado? Pra mim são muito interessantes. E na escola, bebê, ninguém tá nem aí para os bobos. Não só na escola...


Ela gesticulava e seus olhos brilhavam. "Sabedoria dos Fracos", ela insistia em repetir.
Achei que estava na hora de fazer uma pergunta para aquela moça, então disse "por que fracos?"


- "Ah, eles são fortes, né bebê. Acontece que, eu acho que, bom, as pessoas os veem assim. Como fracos mesmo, aos olhos delas. As pessoas estão pouco se fu%&# para os fracos.


Continuei: "Mas você acha que essas pessoas sabem que não são fracas?"


- Não...pois ninguém falou pra elas. Ninguém nunca olhou nos olhos delas 
bem lá dentro e disse que são fortes. Nem em casa, nem na escola, nunca. E depois elas vão trabalhar e continua assim, ninguém dá bom dia, ninguém pede por favor, ninguém sorri. Mas esses fracos (com uma entonação que deixou a palavra entre aspas) estão por aí e ninguém nunca vai saber se um deles poderia ser um Albert Einstein.


Eu sorri e senti uma imensa vontade de falar que talvez ela fosse uma dessas pessoas que são invisíveis no meio da multidão. Mas calei. O ônibus se aproximava e eu tinha que ir embora. Agradeci pela conversa esclarecedora e enquanto entrava no ônibus ela gritava:

- Vai lá, bebê, sabedoria dos fracos, lê e depois me fala! Tenha um bom dia!


De repente entrei em um outro mundo, todos me olhavam assustados. O que será que pensavam? Que eu também estava à espera de clientes? Que eu não deveria estar conversando com ela? Sorri novamente e lembrei...sabedoria dos fracos. Não encontrei esse livro, nem sei se existe, se é o nome certo, mas não importa.


O que importa é que aquela mulher me beliscou, bagunçou minhas ideias. Aquela mulher foi a inspiração para esse meu post e saber que talvez seja mais uma entre os "fracos" me dá um mal estar. 


É...preciso almoçar fora mais vezes...


2 comentários:

  1. Que bacana. As pessoas ficam vez mais grudadas na tela do celular e não observam estas nuances. Mesmo antes do celular, já não observavam muito. Mas, achei sensacional a sua reflexão. E serve de reflexão para outros como eu que leram este belo texto.

    ResponderExcluir