segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

nostalgia.


Não tenho máquina de escrever. Quando eu era criança, passava horas escrevendo na máquina da minha mãe. Queria escrever uma biografia aos 9 anos. Nossa, mas o que uma criança de 9 anos teria para contar da sua vida? Eu tinha. Estava convicta de que a história da minha vida era interessante. Brincava de esconde-esconde, roubava beijos na maior inocência, soltava pipa, andava de carrinho de rolimã. Eu mergulhava todos os dias na delícia de ser criança. Precisava escrever sobre isso. E a máquina...ahhh! Aquele barulho frenético das teclas sendo pressionadas. Parecia uma luta. Meus dedos fracos ficavam doloridos de tão forte que eu batia. E quando via cada letra formando uma palavra, sentia-me completa. Às vezes eu apenas fingia que escrevia só para ouvir o barulho da máquina trabalhando. Olivetti. Eu me apaixonei perdidamente por ela.

Hoje, quando sento para escrever, sinto falta dessa companheira de infância. Mas também sinto falta do papel almaço. Fiz dois livros no papel. Um deles era "O telefone mágico", com direito a capa colorida e tudo mais! Infelizmente eles se perderam no tempo, ou eu os perdi, ou nós nos afastamos por algumas décadas e quando voltei para procurá-lo, já não existia mais. 

Sempre tive essa necessidade de escrever. Sempre me expressei melhor na escrita. Quando escrevo sou assim, eu mesma, como vim ao mundo, nua e desavergonhada. Escrever é como um ato sexual. Começo lentamente, meio intimidada com a folha (mesmo no computador) em branco. Começo a digitar e as palavras vão saindo lentamente, ainda tímidas, mas aos poucos vão se soltando. São as peças de roupa sendo tiradas suavemente. E então começa o frenesi. É o momento que eu mais gosto! Quando simplesmente vou escrevendo e não quero mais parar, parece que as palavras vão se encaixando perfeitamente. O texto ganha coerência e minhas mãos chegam a tremer de tanta empolgação. O auge é a conclusão, o fechamento, é nesse momento que os corpos se contraem de tanto prazer. Fico ofegante, cansada. Encaro o texto por alguns minutos e me apaixono.

É assim, sempre foi assim...

Eu me entrego perdidamente a esse prazer. Mas com a Olivetti era mais prazeroso. Ah, sim! O teclado do computador não tem o mesmo som, não existe uma luta entre mim e ele. É macio, silencioso. É o sexo romântico. Me agrada, mas com a Olivetti era algo enlouquecedor. E eu era tão menina. Preciso comprar uma máquina de escrever para ver se ainda temos essa conexão. Talvez eu volte a ser menina por alguns instantes, talvez eu sinta aquela vontade de escrever uma biografia, talvez eu mergulhe um pouco mais para dentro de mim.

E quando batiam à porta perguntando por mim, eu e a Olivetti ficávamos em silêncio, envergonhadas. Porque eu estava completamente nua, com meus segredos jogados no papel. Ela devia rir daquela situação. E eu só tinha 9 anos...


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